“Ser irmão é ser o que? Uma presença a decifrar mais tarde,
com saudade? Com saudade de que? De uma pueril vontade de ser irmão futuro,
antigo e sempre?”
“Cada irmão é diferente. Sozinho acoplado a outros sozinhos”.
(Carlos
Drummond de Andrade)
Nessa semana pude participar de forma diferente da experiência
de duas pessoas com idades bem maduras, que vivenciaram a partida de irmãos.
Uma delas pelo telefone compartilhou comigo o sentimento desse
momento diante da dor da separação da morte física, poder lembrar as ótimas
recordações de infância com sua irmã que, mora longe de onde está sendo o corpo
velado.
Sentimentos distintos
esse da separação, entre a morte e o viver geograficamente distante.
Pensei então que a distância que une os irmãos é a distância
imensurável, tão bem escrita pelo Poeta acima citado “são seis ou são seiscentas
distância que se cruzam, se dilatam no gesto, no calor, no pensamento? A casa é
a mesma é igual, vista por olhos diferentes?”.
Na hora da despedida o irmão da infância toma um lugar
especial, pois para a vida adulta é natural que cada um tome seu caminho e
amadureça e conquiste a vida conforme suas possibilidades idiossincráticas.
Ser irmão é poder nunca perder o vínculo gostoso
estabelecido na infância, porém como adultos, ser capaz em perceber, como
escreve tão bem o Poeta, que “são estranhos próximos, atentos À área de domínio,
indevassáveis”, com direito a “guardar o seu segredo, sua alma, seus objetos de
toalete”.
Um beijo para meus irmãos com gostinho de infância, Eunice,
Élide, Eucleia, Edvar, Edson, Ednéia e Edilene.
Eleni Nalon
(Psicóloga Clínica)